A   ESTRELA   SÓZINHA
    
 Era uma vez uma estrela. Pequena, pequenina. Um botãozinho de luz. Um quase nada. Fazia pena vê-la: assim sózinha, sem cor nem brilho, no jardim do céu abandonada.
      Porque o céu é um jardim, onde as estrelas são flores que o Sol semeia de luz, com luz de todas as cores ...
      E a estrela (pequena pequenina) a estrelinha que nem cor sequer tivera, era no céu como uma menina (sem nome) procurando saber quem é que era.
      -  Pai Sol, chamava ela, com luz tão fraca, pobre e amarela, quem sou eu, assim abandonada, num canteiro perdido do teu céu?
      E o Sol não respondia. Não falava. Palavras? Nem só uma ... E a estrelinha chorava. Uma lágrima de luz que lhe caía (mas tão pequena) que não chegava a cair em parte alguma.
      E tanto perguntou e perguntava. E tanto caminhou e caminhava, tanto andou (que já  sem saber bem aonde estava) foi dar a uma estrada e descansou.
- Estrada de luz, pedrinhas do céu, dizei-me: sabeis para que sirvo eu?
      Ninguém lhe falou, nem lhe respondeu (as estradas não falam...)
- Ai!  Todos se calam. Que pobre sou eu.Vou seguir p´ra Lua, que é na outra rua por detrás do céu ...
E à Lua chegou. E a Lua dormia.
 - Oh! Lua, acordai, assim lhe dizia.
E a Lua acordou.
- P´ra que sirvo eu, que nem sei quem sou ?
E a Lua sorriu e aconselhou!"Voasse p’rá terra que lá saberia , a terra é tão perto".
E a estrela voou, até que calhou, cair num deserto.
      Que ideia!
       Coisa tão feia,...um deserto!
       Só areia e mais areia! (e tanto, tanto calor, tanto vento, que a gente até pensava que a Lua fora má e não teria, nem coração, nem amor, nem sentimento).
         E a estrelinha ficou. Mais triste ainda e sozinha...
        E um dia...
    …uma formiga caminhava pelo deserto além, morta de sede. E vêde: viu a estrela que na areia descansava e julgou que fosse o mar ...
      - Parece uma miragem: tanta água! Tomarei banho. Beberei primeiro. Vou acabar aqui minha viagem, para aqui construir um formigueiro.
E foi toda contente, chamar suas irmãs que andavam perto (formigas e formigas, mortas de sede também neste deserto).
E a estrela menina (pequenina) que era afinal, chuva que o vento esquecera ...
       A estrela sem nome (tão sózinha)  que nem sabia quem era ...
A estrela diferente (a estrelinha do céu) que gritava a toda a gente: "E eu? Para que       sirvo eu ?"...  Agora sabia para que servia. Quanto é que valia ...

Dizes tu ou queres que eu diga?  Ou queres tu dizer primeiro?

Era água da sede das formigas (e valia) a vida de um formigueiro todo  inteiro.                                       

                                                                DARIO DE MELO

            JORNAL DE ANGOLA/

Sup.179/05.12.81

      Trad.Russa -Revista Infantil URSS -nº3 -Março 83
Colecção Miruí (INALD) 1986